segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os Maias


Resumo da obra



Tudo começa no 1º capítulo, quando se descreve a casa – “O ramalhete”- Lisboa, mas que nada tem de fresco ou de campestre. O nome vem-lhe de um painel de azulejos com um ramo de girassóis, colocado onde deveria estar a pedra de armas.
Afonso da Maia casou-se com Maria Eduarda Runa e do seu casamento resultou apenas um filho - Pedro da Maia. Pedro da Maia, que teve uma educação tipicamente romântica, era muito ligado à mãe e após a sua morte ficou inconsolável, tendo só recuperado quando conheceu uma mulher chamada Maria Monforte, com quem casou, apesar de Afonso não concordar. Deste casamento resultaram dois filhos: Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Algum tempo depois, Maria Monforte apaixona-se por Tancredo (um italiano que Pedro fere acidentalmente e acolhe em sua casa) e foge com ele para Itália, levando consigo a filha, Maria Eduarda. Quando sabe disto, Pedro, destroçado, vai com Carlos para casa de Afonso, onde comete suicídio. Carlos fica na casa do avô, onde é educado à inglesa (tal como Afonso gostaria que Pedro tivesse sido criado).
Passam-se alguns anos e Carlos torna-se médico - abre um consultório. Mais tarde conhece uma mulher no Hotel Central num jantar organizado por Ega (seu amigo dos tempos de Coimbra) em homenagem a Cohen. Essa mulher vem mais tarde saber chamar-se Maria Eduarda. Os dois apaixonam-se. Carlos crê que a sua irmã morreu. Maria Eduarda crê que apenas teve uma irmãzinha que morreu em Londres. Os dois namoram em segredo. Carlos acaba depois por descobrir que Maria lhe mentiu sobre o seu passado – podiam ter-se zangado definitivamente. Guimarães vai falar com João de Ega, e dá-lhe uma caixa que diz ser para Carlos ou para a sua irmã Maria Eduarda. Aí Ega descobre tudo, conta a Vilaça (procurador da família Maia) e este acaba por contar a Carlos o incesto que anda a cometer. Afonso da Maia morre de desgosto.
Há ainda a abordagem científica. O romance foi escrito numa altura em que as ciências floresciam. Eça joga nele com o peso da hereditariedade (Carlos teria herdado da avó paterna e do próprio pai o carácter fraco, e da mãe a tendência para o desequilíbrio amoroso), e da acção do meio envolvente sobre o indivíduo (Carlos fracassa, apesar de todas as condicionantes que tem a seu favor, porque o meio envolvente, a alta burguesia lisboeta, para tal o empurra). A psicologia dava os seus primeiros passos – é assim que Carlos, mesmo sabendo que a mulher que ama é sua irmã, não deixa de a desejar, uma vez que não basta que lhe digam que ela é sua irmã para que ele como tal a considere.
Simbolismo
O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. No primeiro capítulo a cascata está seca porque o tempo da acção d' Os Maias ainda não começou. No último capítulo, o fio de água da cascata é símbolo da eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz; mostra-nos também que o tempo está mesmo a esgotar-se e o final da história d' Os Maias está próximo. Este choro simboliza também a dor pela morte de Afonso da Maia.
A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte, no último capítulo, coberta de ferrugem, simboliza o desaparecimento de Maria Eduarda; os seus membros agora transformados dão-lhe uma forma monstruosa fazendo lembrar Maria Eduarda e a monstruosidade do incesto. Esta estátua marca, então, o início e o fim da acção principal. Ela é também símbolo das mulheres fatais d' Os Maias - Maria Eduarda e Maria Monforte
Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No início o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um carácter lúgubre. Note-se que as paredes do Ramalhete foram sempre sinal de desgraça para a família Maia. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Mas também, simbolizam a amizade inseparável de Carlos e João da Ega.
No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionada com o modo como Eça via o país, em plena crise do regime. A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no país.
O armário do salão nobre da Toca tem uma simbologia trágica. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o trabalho: qualidades que existiram um dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam o desastre do incesto decorrido entre Carlos e Maria Eduarda. No final um partiu o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto era grandioso e sublime na tradição dos antepassados.
Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes correntes estético-literárias. Este fracasso parece dever-se, não às correntes em si, mas às características do povo português:
-a predilecção pela forma em detrimento do conteúdo;
-o diletantismo que impede a fixação num trabalho sério e interessante;
-a atitude "romântica" perante a vida que consiste em desculpar sistematicamente os próprios erros e falhas e dizer "Tudo culpa da sociedade".
A prosa queirosiana
O adjectivo
O advérbio
O verbo
Discurso indirecto livre
Diminutivo
Adjectivação dupla, unindo as duas faces da realidade: a concreta e a emocional
Adverbiação dupla
Uso original (para além de neologismos: gouvarinhar, cervejando)
Conserva as interrogações, exclamações, as palavras usadas pela personagem
Pequenez
Os adjectivos nem sempre vêm seguidos
Adverbiação tripla (gradação)
Uso do perfeito singulativo e do imperfeito iterativo
Detrimento da acumulação de conjunções subordinativas
Carinho ou ternura
A adjectivação pode ser tripla ou ainda com mais adjectivos
O advérbio ligado à ironia
Emprego do gerúndio, para evitar orações relativas e para sugerir duração, continuidade
Quebra a monotonia do diálogo
Ironia, depreciação ou sentido pejorativo
Adjectivos com a mesma terminação, criando um efeito cómico e depreciativo
Efeito de superlativação
Recorrência de verbos derivados de adjectivos de cor e/ou de verbos que animizam o espaço descrito e o visualizam
Eliminar verbos introdutórios

Adjectivos com valor adverbial


Evitar verbos declarativos

Adjectivos com um emprego imprevisível


Aproximava a sua expressão literária dos processos da língua falada

Adjectivos ligados à sinestesia, à hipálage e à ironia


Aparente autonomia das personagens




Intriga principal: pressupõe um desfecho os acontecimentos sucedem-se por uma relação de causalidade. Acção fechada porque no final há a destruição da família.
Crónica de costumes: construção de ambientes e actuação de personagens-tipo. Acção aberta.
Articulam-se de forma alternada funcionando os ambientes como pano de fundo para a actuação das personagens da intriga principal e para os figurantes da crónica de costumes.

Espaço
Espaço físico:
-Espaço geográfico: Coimbra: espaço de boémia estudantil, artística e literária; espaço de formação de Carlos cuja existência surge ainda marcada pelo Romantismo que a sua geração procura rejeitar. Ambiente propício ao diletantismo e ociosidade.
                               Lisboa: é o grande espaço privilegiado ao longo da obra. As suas ruas, as suas praças, os seus hotéis, os seus locais de convívio, os seus teatros constituem-se quase como personagens ao longo do romance. Polariza tudo o que constituía a morna ocupação da camada dirigente do país (ociosidade). É o símbolo da sociedade portuguesa da Regeneração, incapaz de se modernizar (obras da Avenida da Liberdade) e que agoniza na contemplação de um passado glorioso.
                               Sintra: A ida a Sintra de Carlos, Cruges e Alencar constitui um dos momentos mais poéticos e hilariantes da obra. Sintra é o paraíso romântico perdido, é o refúgio campestre e purificador.
                               Santa Olávia: É um lugar mágico para onde a família se desloca recuperar as forças perdidas, para esquecer a dor e encarar o futuro.
-Espaços interiores: Ramalhete: constitui um marco de referência fundamental e o seu apogeu e/ou degradação acompanham o percurso da família e a passagem de Carlos por Lisboa. Símbolo desse percurso é a descrição do jardim (aspecto simbólico oposto ao racionalismo naturalista): -1º momento: o jardim tem um aspecto de abandono e degradação; corresponde ao desgosto de Afonso após a morte de Pedro; - 2º momento: é o renascimento da esperança, renovação da casa por Carlos; -3ª momento: «areado e limpo, mas sombrio e solitário», simboliza o fim de um sonho e a morte de uma família.
                                  O consultório: A descrição do consultório revela-nos algumas facetas de Carlos: diletantismo, entusiasmos passageiros, projectos inacabados.
                                  A casa de Dâmaso: a ornamentação espampanante contrasta ironicamente com a baixeza moral da personagem e com a sua embaraçada aflição no episódio da carta.
                                  Redacções respectivamente de «A corneta do Diabo» e de «A Tarde»: À degradação ética destes jornais corresponde «um cubículo, com uma janela gradeada por onde resvalava uma luz suja de saguão» e uma entrada mal cheirosa.
                                  A Vila Balzac: o nome escolhido remete para duas facetas da personalidade contraditória de Ega: a criação literária planeada, mas sempre adiada e a escolha de um escritor realista (estética da qual é adepto convicto) para padroeiro quando, afinal, protagoniza reacções e comportamentos românticos. Os móveis escolhidos, nomeadamente a cama, acentuam a exuberância afectiva e erótica de Ega o espelho à cabeceira insinua a extravagância, um temperamento exibicionista e narcisista.  
                                 O Hotel Central/ a casa da rua de S. Francisco/ a Toca: Carlos tenta descobrir facetas da personalidade de Mª Eduarda através da observação dos objectos que a rodeiam. A decoração da Toca simboliza a excentricidade, a anormalidade e a tragédia que caracterizarão as relações de Carlos e Mª Eduarda.
Espaço Social:
O jantar no Hotel Central: motivo do jantar: homenagem de Ega ao banqueiro Cohen marido de Raquel Cohen, amante de Ega (situação moral incorrecta). É um jantar de cerimónia requintado e luxuoso, fino e elegante que serve também para propiciar um primeiro e alargado contacto de Carlos com o meio social lisboeta. Proporcionar também o primeiro encontro entre Carlos e Mª Eduarda. Temas de conversa: literatura e economia/ finanças.
                        Literatura: 1. Realismo/Naturalismo2. Romantismo/Ultra-Romantismo. 1. Defensores: Ega: aspecto científico; não distingue Literatura de Ciência. Opinião do autor: elogio. Opositores: Alencar; Craft; Carlos (realista mas não concorda com algumas coisas do naturalismo). 2. Defensores: Alencar: propósitos contrariados pelas suas acções: Propaganda do amor ilegítimo; Vida de excessos. Posição do autor: Recusa o Ultra-Romantismo de Alencar; Recusa a distorção do Naturalismo contida nas palavras de Ega; Afirma uma estética próxima de Craft «estilos novos, tão preciosos e tão dúcteis»: tendência parnasiana.
                        Finanças/Economia: Política do país: Cobrar impostos, Fazer empréstimos. Opiniões: Cohen (representante da classe de Administração pública e financeira): necessidade de empréstimos; Carlos: O país caminha para bancarrota. Soluções: Ega: Revolução, Iberismo (anexação a Espanha). Objectivo: Varrer a monarquia, varrer o crasso pessoal do Constitucionalismo. Críticas: Política económica; Estado decadente do país. Reacções: Desinteresse por parte da classe política que governa as finanças; Cohen é calculista e cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que ocupa, lava as mãos e afirma alegremente que o país vai direitinho para a bancarrota.
            Outras personagens envolvidas no jantar: Craft (representa a burguesia inglesa): critica a ociosidade; Dâmaso (representa a burguesia portuguesa): é cobarde, exibicionista, parasita.
            Opinião de Ega: Aplaude as afirmações de Cohen; Delira com a bancarrota como determinante de agitação revolucionária; Defende a invasão espanhola; Defende o afastamento violento de monarquia; Aplaude a instauração da república; A raça portuguesa é a mais cobarde e miserável da Europa.
               Opinião do autor: Próxima da opinião de Ega quando este defende uma catástrofe nacional como forma de acordar o país.
Final do jantar: taverna; confusão; insultos; ofensas. Contraste com o início: Hotel, jantar de luxo e requinte.
Conclusão: O que todo este episódio do jantar no Hotel Central representa é o esforço frustrado de uma certa camada social (por ironia a mais destacada) para assumir um comportamento digno e requintado. Só que, à parte algumas excepções, a realidade dos factos vem ao de cima; o que é o mesmo que dizer: as limitações culturais e morais não se ocultam à custa de ementas afrancesadas, divãs de marroquim e ramos de camélias.
Tempo
Tempo diegético (ou da história): Trata-se do tempo em que decorre a acção e é sugerido através do tempo histórico, das referências cronológicas, do tempo cósmico e do desenrolar da acção. Nos Maias a acção passa-se no século XIX, entre 1820 e 1887. Narrando a história da uma família ao longo de três gerações - embora não tendo todas o mesmo destaque — o autor dá-nos referências cronológicas concretas e refere-se a acontecimentos reais da evolução da sociedade portuguesa dessa época. A acção não abrange meio século mas apenas catorze meses, do Outono de 1875 a finais de 1876; e, enquanto os antecedentes familiares, de cerca de 1820 a 1875, só ocupam oitenta e cinco páginas, os catorze meses da acção, de que são protagonistas Carlos e Maria Eduarda, espraiam-se por mais de quinhentas e noventa páginas.
Tempo narrativo: Em "Os Maias" há que distinguir entre o tempo da novela e o tempo do romance.
            Tempo da novela: tem um rápido encadeamento de factos que se sucedem uns aos outros num apressado fluir temporal, encontramos exactamente esse processo no que consideramos a primeira parte da obra, na qual ela obedece a uma estrutura novelesca. Rapidamente, em breves períodos, dotados de uma poderosa dinâmica narrativa, o narrador conta, sinteticamente, os casos fundamentais da história das três gerações.
            Tempo do romance: ocupa grande parte o livro e só descreve um ano e poucos meses da vida de Carlos. Tendo início no Outono de 1875, quando Carlos regressa a Lisboa, após uma longa viagem de fim de curso. Maria Eduarda parte, em Janeiro de 1877 é a vez de Carlos deixar definitivamente o Ramalhete. Trata-se da conclusão do romance. No universo do romance, o tempo demora, acompanhando o fluir dos dias, o escorrer das horas, ou pára mesmo, asfixiado pelas múltiplas descrições, pelos diversos comentários do narrador.
Tempo do discurso: É revelado através da forma como o narrador relata os acontecimentos, os quais podem ser apresentados de forma linear ou contados episódios passados para explicar situações presentes, ou ainda adiantados factos, retrocedendo depois, ao momento narrativo em que se encontrava. Pode ainda contar alguns acontecimentos de forma reduzida e omitir outros, pelo que é o tempo do discurso que determina a apresentação da história e a sua sequência.
            Nas anacronias a narração dos acontecimentos ao nível do discurso não apresenta a mesma ordem do tempo diegético, devido a analepses. Nas anisocronias o tempo diegético não coincide com o tempo do discurso, sendo que este é menor que o tempo diegético, tal pode acontecer nos resumos, nas elipses e nas isocronias. O resumo conta sumariamente o que ocorreu para depois prosseguir a narrativa, de modo a que a estrutura formal e ideológica da mesma seja perceptível. As elipses omitem períodos temporais que são sugeridos ao nível da história; n' Os Maias é sobretudo no início da obra coincidindo com a grande analepse, que as elipses ocorrem, pois o narrador destaca apenas aqueles acontecimentos cujo sentido é pertinente para a compreensão da intriga principal; no final da obra a elipse apresenta outra dimensão, sugerindo o desgaste psicológico a que as personagens foram sujeitas e a angústia nostálgica perante a passagem irreversível do tempo. A isocronia é uma tentativa de fazer coincidir o tempo do discurso com o tempo diegético, o que acontece fundamentalmente na intriga principal e na crónica de costumes; a narrativa adquire algumas características do texto dramático, pois a duração do relato dos acontecimentos toma-se mais real; as marcas da isocronia são o diálogo e o discurso directo, a apresentação da movimentação das personagens, a descrição da transformação fisionómica das personagens, e, a referência à linguagem gestual das personagens.
Tempo psicológico: É o tempo que a personagem assume interiormente, filtrado pelas suas vivências subjectivas e carregado de densidade dramática, alonga-se ou encurta-se dependendo do estado de espírito que o define, e não coincide com as referências cronológicas. Introduz a subjectividade, o que põe em causa as leis do Naturalismo. Há momentos em que para Eça o tempo cronológico é quase irrelevante, sentindo-o apenas na medida em que dele usufruíram, pelo que se diz que as personagens valorizam o tempo consoante os seus sentimentos pessoais. É o tempo do sonho, da procura, do projecto, que encharca as personagens, cortando-lhes a evolução no plano real, pelo que não há evolução positiva, mas antes um progressivo definhar de um tempo que não se vive. 

Personagens
Afonso da Maia: baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. Os cabelos eram branco, muito curto e a barba branca e comprida. Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. Personagem que funciona como sustentáculo da família Maia e é para ele que todos se voltam nos momentos de crise.
Maria Eduarda Runa: Oposição em termos ideias e sociais relativamente a Afonso; Mulher de caprichos; Ideais religiosos (educação Pedro com apoio padre Vasques).
Maria Monforte: Fã dos jogos de sedução; Formosa, doida, excessiva; Pessoa séria e responsável aquando o nascimento de Maria Eduarda; Leviana e nada moral, é nela que radicam todas as desgraças da família Maia (o drama em causa)
Pedro Da Maia: pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física. Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho". O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes.
Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrógrada. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.
Carlos da Maia: belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença". Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.
Maria Eduarda: bela mulher: alta, loira, bem-feita, sensual e delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas", era bastante simples na maneira de vestir. Maria Eduarda nunca é criticada, é uma personagem delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito.
João da Ega: usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Ele teve a sua grande paixão – Raquel Cohen. Um falhado, corrompido pela sociedade. Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se um eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.
Eusébiozinho: O oposto de Carlos (lado negativo) no que respeita à educação;
-Doentio, mergulhado nas educações da sua mãe e tia.
Dâmaso Salcede: personagem mais caracterizado por Eça, tornando-se um cabide de defeitos: defeitos de origem (filho de um agiota); presumido; cobarde; não tem dignidade; mesquinho; enfatuado e gabarola; provinciano e tacanho, somente uma preocupação na vida o ‘chique a valer’. Fisicamente é baixote, gordo, frisado como um noivo de província, mas a quem não falta pretensiosismo. Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por interesse e desejo de condição social. Tenta convencer-se e convencer os outros do seu fascínio irresistível face ao sexo oposto, não obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de reputação muito duvidosa. Possuidor de grande bazofia e sendo um enorme cobarde, difama pública e anonimamente Carlos, mas retracta-se logo em seguida. Nada tem de inteligente, de honrado ou de nobre. Consegue casar com a uma filha dos Condes de Águeda que se apressa a trai-lo. Condensa toda a estupidez, futilidade e ausência de valores da sociedade. Decalca qualquer comportamento importado do estrangeiro, principalmente de França.
Alencar: incoerente; condena no presente o que cantara no passado; contradição entre aquilo que ele diz e aquilo que ele faz. Falso moralista; refugia-se na moral, por não ter outra arma de defesa. Acha o Realismo/Naturalismo imoral. Desfasado do seu tempo. Defensor da crítica literária de natureza académica (preocupação com questões de natureza formal em detrimento da dimensão temática; obcecado pelo plágio) pouca credibilidade e seriedade da crítica literária em Portugal.
Vida de Pedro da Maia (intriga secundária; amores infelizes)
Vida de Calos da Maia (intriga principal; amores incestuosos)
Vida dissoluta
Vida dissoluta
Encontro ocasional com Maria Monforte
Encontra ocasional com Maia Eduarda
Procura de Mª Monforte
Procura de Mª Eduarda
Encontro através de Alencar
Encontro através de Dâmaso
Oposição real de Afonso à “Negreira”
Oposição potencial de Afonso à “Amante”
Encontros e casamento
Encontros e relações
Elemento desencadeador do drama – o napolitano
Elemento desencadeador da tragédia – Guimarães
Infidelidade de Maria Monforte – reacções de Pedro
Descoberta do incesto – reacções de Carlos
Encontro de Pedro com Afonso e suicídio de Pedro
Encontro de Carlos com Afonso – morte de Afonso
Educação
Pedro da Maia: Típica educação portuguesa oitocentista conservadora e católica:
 ▪ Apelo à memória
 ▪ Primado da Cartilha (concepção punitiva da devoção religiosa)
 ▪ Aprendizagem de uma língua morta (latim)
 ▪ Educação doutrinária sem fins práticos (fuga ao contacto directo com a natureza e às realidades práticas da vida)
Carlos da Maia: Educação tipicamente inglesa, moderna e laica:
▪ Apelo ao conhecimento prático das coisas
▪ Ciência
▪ Aprendizagem de línguas vivas
▪ Exercício Físico (mens sana in corpore sano)
▪ Privilégio da vida ao ar livre; contacto com a natureza
Eusébiozinho: Contemporâneo de Carlos, recebe uma educação tradicional:
▪ Resistente à mudança
▪ Típica de um romantismo decadente
▪ Debilidade física (de notar os diminutivos utilizados na caracterização)
▪ Deformação da vontade própria através do suborno
▪ Imersão na atmosfera melancólica e doentia do Romantismo decadente
▪ Desvalorização da criatividade e do juízo crítico (recurso à memorização)
Pedro é uma personagem que obedece aos cânones naturalistas:
Educação tradicional + herança do carácter depressivo e melancólico de sua mãe + vivência romântica = Homem fraco, incapaz, suicídio.
Carlos (no fim): dandy, diletante, ocioso, fracassado, vazio. Carlos fracassou apesar da educação, ajudado pela carga hereditária dos pais e, sobretudo, influenciado pelo meio decadente e ocioso em que se move.
10 anos depois: «NADA MUDARA»: sensação de total imobilismo da sociedade portuguesa; provincianismo da sociedade lisboeta; aceitação do fracasso e do desencanto: vencidismo; a falta de fôlego para acabar os grandes empreendimentos; crítica à imitação do estrangeiro, o reles, o postiço; a decadência actual dos valores genuínos.
Teoria da vida: Para finalizar o percurso existencial de Carlos partilhada com Ega: Nada desejar. Nada recear (não vale a pena viver): deseja um prato de paio com ervilhas; correm para apanhar o americano.
Conclusão: O percurso existencial de Carlos pode ser o símbolo da evolução da sociedade portuguesa após a regeneração, quando Portugal parecia estar a entrar numa época diferente, marcada por uma certa prosperidade (tal com Carlos foi a esperança de renascimento dos Maias), o país acaba por cair no indiferentismo, num retrocesso marcado por uma indefinição quanto ao futuro.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Relatorio a Visita de Estudo a Mafra

No dia 28 de Janeiro de 2011, pelas 6:30H, os alunos das turmas E, F e G, acompanhados das Professoras Fátima Santos, Teresa Anastácio e Ana Maria Palma, da Escola Secundária com 3º Ciclo D. Manuel I, em Beja, realizaram uma visita de estudo no âmbito do estudo da obra Memorial do Convento, de José Saramago., com o objectivo de os alunos conhecerem o Palácio Nacional de Mafra. Chegamos as 9:45. Ficamos a espera das outras turmas que estavam também a visitar. Organizamo-nos em grupos para que cada um a não perder tempo. O grupo que eu pertencia foi ao exterior do palácio ter com o nosso guia. Ele começou por, brevemente, contar a história do Palácio Nacional de Mafra. Fomos ao interior do Palácio conhecer a igreja. Ficamos a conhecer um pouco mais da história. O guia esteve a explicar como foi feita a estrutura da igreja, mencionou os 6 órgãos do princípio do século XIX que lá havia, e como excentricamente a igreja foi decorada como mármores tão brilhantes que pareciam um espelho. Logo de seguida fomos a outra parte do palácio, onde ficamos a conhecer os aposentos do Rei D. João V. Como escolhemos por continuar a visitar o interior do palácio, seguimos um longo corredor até aos aposentos da Rainha D. Maria Ana. No caminho, vimos muitos retratos, obras de arte no teto com ilusionismo. Depois dos 232 metros de corredor, finalmente chegamos aos aposentos da Rainha. Não havia grande diferença entre os aposentos do Rei e da Rainha, a não ser o fato da cama ser menor, mas como eles não se deitavam, não havia diferença se era grande ou não. De seguida, passamos pelo salão de jogos, salão de caca onde havia inúmeros quadros com cabeças e hastes de animais diversos. Aliás, a sala era toda decorada com os mesmos. Fizemos este percurso todo para ir conhecer quase todos os corredores do palácio. Quando finalmente ficamos a conhecer a tão famosa biblioteca, o tesouro do palácio, decorado mármore no chão estantes com madeira em estilo rococó e uma colecção de mais de 40000 livros com encadernação de couro gravadas a ouro.
Pouco antes do meio-dia, estávamos todos dispensados para o almoço. Voltamos pelas 14:30 e fomos assistir a peça de teatro “Memorial do Convento”, que teve a duração de 1:20. Terminada a peça tivemos um tempo para conhecer os arredores, e o jardim do palácio. 

Conclusao:

Na minha opinião não há nada melhor para adquirir interesse e conhecimento sobre a história do que estão lá a sentir o ambiente. Claro, tudo, sem formalidade. A Visita foi melhor do que eu esperava. Devia haver mais como esta. E muito interessante e cativante, pelo que acho que me arrependia se não tivesse ido. Relativante a historia e o trabalho no blog, acho que foi mais interessante fazer lo, e aprendi muito mais e percebi melhor do que estava a fazer gracas a visita.

ESTILO E LINGUAGEM DE JOSÉ SARAMAGO


 Utilização de figuras de estilo:
Ø  Metáfora à página 27 e 111
Ø  Ironia à pág. 11, 15-16, 153
          É de notar que, em determinados momentos, por exemplo, aquando da descrição do auto-de-fé ou das procissões, a visão crítica do narrador é acompanhada de uma ironia que perpassa todo o relato.

Ø  Hipálage à pág. 42

Utilização do registo de língua familiar e popular, com sentido irónico e crítico ou como forma de tradução do estatuto social das personagens. Pág. 11, 38, 40.

Oposições sugeridas por vocabulários antónimosà pág. 27. (no exemplo enfatizam-se as oposições entre as classes sociais distintas: os ricos e os pobres)

Formas verbais
Ø  Utilização do gerúndio à pág. 50 (no exemplo, o gerúndio surge como expressão do movimento da multidão e serve a sequencialização da acção, sugerindo a sua duração)
Ø  Utilização do presente do indicativo – transporta o leitor para o tempo da narrativa à pág. 39
Ø  Utilização do modo imperativo – utilização do imperativo, por vezes, alia-se à ironia crítica, numa reminiscência da oratória barroca. à pág. 308

Construção frásica
Ø  Frases muito longas – surgem numa aproximação ao discurso oral ou como tradução do monólogo anterior e da celeridade do pensamento à pág. 131 e 94
Ø  Paralelismos de construção à pág 26
Ø  Utilização do polissíndeto à pág 94
Ø  Utilização do paralelimo de construção e do polissindeto à pág. 112-113
Ø  Enumeração à pág. 335