terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Bibliografia de José Saramago


 "Terra do Pecado"(Romance) 1947
"Os Poemas Possíveis"(Poesia) 1966
"Provavelmente Alegria"(Poesia) 1970
"Deste Mundo e do Outro"(Crónicas) 1985
"A Bagagem do Viajante"(Crónicas) 1973
"As Opiniões que o DL teve"(Crónicas) 1974
"O Ano de 1993"1987
"Os Apontamentos"(Crónicas) 1976
"Manual de Pintura e Caligrafia"(Romance) 1977
"Objecto Quase"(Conto) 1978
"A Noite"(Teatro) 1979
"Poética dos Cinco Sentidos (O Ouvido)"(Ensaio) 1979
"Levantado do Chão"(Romance) 1980
"Que farei com Este Livro?"(Teatro) 1980
"Viagem a Portugal"(Viagens) 1980
"Memorial do Convento"(Romance) 1982
"O Ano da Morte de Ricardo Reis"(Romance) 1986
"A Jangada de Pedra"(Romance) 1986
"A Segunda Vida de Francisco de Assis"(Teatro) 1987
"História do Cerco de Lisboa"(Romance) 1989
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo"(Romance) 1991
"In Nomine Dei"(Teatro) 1993
"Ensaio Sobre a Cegueira"(Romance) 1995
"Cadernos de Lanzarote (1993-1995)"(Diário) 1997
"Cadernos de Lanzarote I"(Diário) 1994
"Cadernos de Lanzarote II"(Diário) 1995
"Cadernos de Lanzarote III"(Diário) 1996
"Todos os Nomes"(Romance) 1997
"Cadernos de Lanzarote IV"(Diário) 1998
"Cadernos de Lanzarote V"(Diário) 1998
"O Conto da Ilha Desconhecida"1998
"A Estátua e a Pedra"(Texto de encerramento de um convénio na Universidade de Turim, "Diálogos sobre a Cultura Portuguesa. Literatura-Música-História")
"Discursos de Estocolmo"1999
"Folhas Políticas (1976-1998)"1999
"A Caverna"(Romance) 2000
"A Maior Flor do Mundo"(Conto) 2001
"O Homem Duplicado"(Romance) 2002
"Ensaio Sobre a Lucidez"(Romance) 2004
"Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido"(Teatro) 2005
"Poesia Completa"(Poesia) 2005
"As Intermitências da Morte"(Romance) 2005
"As Pequenas Memórias"2006
"A Viagem do Elefante"(Romance) 2008
"O Caderno"(Textos escritos para o blogue. Setembro de 2008 a Março de 2009) 2009
"Caim"(Romance) 2009
"O Caderno 2"(Textos escritos para o blogue. Abril de 2008 a Novembro de 2009) 2009

Biografia

José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não perfizera três anos de idade. Toda a sua vida tem decorrido na capital, embora até ao princípio da idade madura tivessem sido numerosas e às vezes prolongadas as suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários (liceal e técnico) que não pôde continuar por dificuldades económicas.
No seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico, tendo depois exercido diversas outras profissões, a saber: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, editor, tradutor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance ("Terra do Pecado"), em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966. Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na Revista "Seara Nova".
Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal "Diário de Lisboa" onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural daquele vespertino. Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do "Diário de Notícias". Desde 1976 vive exclusivamente do seu trabalho literário.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os símbolos


·      Saia verde: comprada em Paris, no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. “Alegria no reencontro”; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança
·      Título: duas vezes mencionado inserido nas falas das personagens (por D. Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo de revolte)
·      Luz: vida, saúde e felicidade
·      Noite: mal, castigo, morte
·      Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periocidade, renovação
·      Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade
·      Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar
·      Titulo: D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo; representa as trevas e o obscurantismo (Página 131); Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania; representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade (Página 140)
·      Moeda de 5 reis: símbolo de desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus
·      Tambores: símbolos da repressão

Paralelismo entre passado e as condições históricas dos anos 60: denúncia da violência

Século XIX – 1817
Século XX – anos 60
Agitação social que levou à revolta de 1820
Agitação social: conspirações internas; principal erupção da guerra colonial
Regime absolutista e tirano
Regime ditatorial salazarista
Classes hierarquizadas, dominantes, com medo de perder privilégios
Classes exploradas; desigualdade entre abastados e pobres
Povo oprimido e resignado
Povo reprimido e explorado
Miséria, medo, ignorância, obscurantismo mas “felizmente há luar”
Miséria, medo, analfabetismo, obscurantismo mas crença nas mudanças
Luta contra a opressão do regime
Luta contra o regime totalitário e ditatorial
Perseguições dos agentes de Beresford
Perseguições da PIDE
Denuncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento
Denuncias dos “bufos”
Censura à imprensa
Censura total
Repressão dos conspiradores; execução sumaria e pena de morte
Prisão; duras medidas de repressão e tortura; condenação sem provas
Execução de Gomes Freire
Execução de Humberto Delgado
Revolução de 1820
Revolução do 25 de Abril de 1974

A didascália


A peça é rica em referências concretas (sarcasmo, ironia, escárnio, indiferença, galhofa, adulação, desprezo, irritação – relacionadas com os opressores; tristeza, esperança, medo, desânimo – relacionadas com os oprimidos). As marcações são abundantes: tons de voz, movimentos, posições, cenários, gestos, vestuário, sons (tambores, silêncio, voz que fala antes de entrar no palco, sino que toca a rebate, murmúrio de vozes, toque duma campainha) e efeitos de luz (contraste entre a escuridão e a luz; os dois actos terminam em sombra). De realçar que a peça termina ao som de fanfarra (“Ouve-se ao longe uma fanfarronada que vai num crescendo de intensidade até cair o pano.”) em oposição à luz (“Desaparece o clarão da fogueira.”); no entanto, a escuridão não é total, porque “felizmente há luar”.

Tempo


®     Tempo histórico ou tempo real (século XIX - 1817)
·      Invasões francesas (desde 1807): rei no Brasil
·      Ajuda pedida aos ingleses (Beresford)
·      Regime absolutista
·      Situação económica portuguesa má: dinheiro ia para a corte no Brasil
·      Regência, influenciada por Beresford (símbolo do poder britânico em Portugal)
·      Primeiros movimentos liberais (1817), com a conspiração abortada de Gomes Freire
·      25 De Maio de 1817 – prisão de Gomes Freire; 18 de Outubro de 1817 – enforcado, datas condensadas em dois dias na peça (tempo de acção dramática)
·      Governadores viam na revolução a destruição da estrutura tradicional do Reino e a supressão dos privilégios das classes favorecidas
·      O povo via na revolução a solução para a situação em que se encontrava
·      Revolução liberal de 1820
·      Implantação do liberalismo em 1834, com o acordo de Évora-Monte

®     Tempo metafórico ou tempo da escrita (século XX - 1961)
·      Permanentemente presente (implícito)
·      Época conturbada em 1961: guerra colonial angolana; greves; movimentos estudantis; pequenas “guerrilhas” internas; crescente aparecimento de movimentos de opinião organizados; oposição política
·      Situação política, social e económica de desagrado geral
·      Regime ditatorial salazarista: desigualdade entre abastados e pobres muito grande; povo reprimido e explorado; miséria, medo; analfabetismo e obscurantismo
·      PIDE, “bufos”; censura; medidas de repressão/tortura e condenação sem provas
·      Sttau Monteiro evoca situações e personagens do passado como pretexto para falar do presente
·      Grande dualidade de conceitos entre os dois tempos: Gomes Freire é Humberto Delgado; os governadores três são o regime salazarista; Vicente e os delatores são os “bufos”; os homens de Beresford são a PIDE…

Espaço



·      Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes
·      Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens

Personagens

Há três grupos importantes de personagens no poema:

1.      Povo

®     Rita, Antigo Soldado, Populares
·      Personagens colectiva
·      Representam o analfabetismo e a miséria
·      Escravizado pela ignorância
·      Não tem liberdade
·      Desconfiam dos poderosos
·      São impotentes face à situação do país (não há eleições livres, etc.)

®      Manuel
·      Denuncia a opressão
·      Assume algum protagonismo por abrir os dois actos
·      Papel de impotência do povo

®     Matilde
·      Personagem principal do acto II
·      Companheira de todas as horas de Gomes Freire
·      Forte, persistente, corajosa, inteligente, apaixonada
·      Não desiste de lutar, defendendo sempre o marido
·      Põe de lado a auto-estima (suplica pela vida do marido)
·      Acusa o povo de cobardia mas depois compreende-o
·      Personifica a dor das mães, irmãs, esposas dos presos políticos
·      Voz da consciência junto dos governadores (obriga-os a confrontarem-se com os seus actos)
·      Desmascara o Principal Sousa, que não segue os princípios da lei de Cristo

®     Sousa Falcão
·      Amigo de Gomes Freire e Matilde
·      Partilha das mesmas ideias de Gomes Freire mas não teve a sua coragem
·      Auto-incimina-se por isso
·      Medroso

2.      Delatores
Representam os “bufos” do regime salazarista.

®     Vicente
·      É do povo mas trai-o para subir na vida
·      Tem vergonha do seu nascimento, da sua condição social
·      Faz o que for preciso para ganhar um cargo na polícia
·      Demagogo, hipócrita, traidor, desleal e sarcástico
·      Falso humanitário
·      Movido pelo interesse da recompensa
·      Adulador do momento

®     Andrade Corvo e Morais Sarmento
·      Querem ganhar dinheiro a todo o custo
·      Funcionam como “bufos” também pelo medo que têm das consequências de estar contra o governo
·      Mesquinhos, oportunistas e hipócritas

3.      Governadores
Representam o poder político e são o cérebro da conjura que acusa Gomes Freire de traição ao país; não querem perder o seu estatuto; são fracos, mesquinhos e vis; cada um simboliza um poder e diferentes interesses; desejam permanecer no poder a todo o custo

®     Beresford
·      Representa o poder militar
·      Tem um sentimento de superioridade em relação aos portugueses e a Portugal
·      Ridiculariza o nosso povo, a vida do nosso país e a atrofia de almas
·      Odeia Portugal
·      Está sempre a provocar o principal Sousa
·      Não é melhor que aqueles que critica mas é sincero ao dizer que está no poder só pelo seu cargo que lhe dá muito dinheiro
·      Tem medo de Gomes Freire (pode-lhe tirar o lugar)
·      Oportunista, severo, disciplinar, autoritário e mercenário
·      Bom militar, mau oficial

®     Principal Sousa
·      É demagogo e hipócrita
·      Não hesita em condenar inocentes
·      Representa o poder clerical/Igreja
·      Representa o poder da Igreja que interfere nos negócios do estado
·      Não segue a doutrina da Igreja para poder conservar a sua posição
·      Não tem argumentos face ao desmascarar que sofre de Matilde
·      Tem problemas de consciência em condenar um inocente mas não ousa intervir para não perder a sua posição confortável no governo
·      Fanático religioso
·      Corrompido pelo poder eclesiástico
·      Desonesto
·      Odeia os franceses
·      Defende o obscurantismo

®     D. Miguel Forjaz
·      Representa o poder político e a burguesia dominadora
·      Quer manter-se no poder pelo seu poder político-económico
·      Personifica Salazar
·      Prepotente, autoritário, calculista, servil, vingativo e frio
·      Corrompido pelo poder
·      Primo de Gomes Freire


v  Gomes Freire de Andrade
·        Representa Humberto Delgado
·        Personagem virtual/central
·        Sempre presente nas palavras das outras personagens
·        Caracterizado pelo Antigo Soldado, por Manuel; D. Miguel e Beresford
·        Idolatrado pelo povo
·        Acredita na justiça e na luta pela liberdade
·        Soldado brilhante
·        Estrangeirado
·        Símbolo da esperança e liberdade

v  Policias: representam a PIDE

v  Frei Diogo de Melo: representam a Igreja consciente da situação do país...